Poluição plástica nos oceanos quadruplicará até 2050
Uma revisão de 2.592 estudos apoiada pelo WWF fornece a análise mais abrangente até o momento do impacto e da escala alarmantes da poluição plástica nas espécies e ecossistemas oceânicos. O levantamento revela que o crescimento projetado da poluição plástica provavelmente resultará em riscos ecológicos significativos, prejudicando os esforços atuais para proteger e aumentar a biodiversidade, caso não forem tomadas medidas imediatas para reduzir a produção e o uso global de plástico.
A análise alerta que, até o final do século, áreas marinhas com mais de duas vezes e meia o tamanho da Groenlândia podem exceder os limites ecologicamente perigosos de concentração de microplásticos, já que a sua quantidade pode aumentar 50 vezes em ambientes marinhos. Isso se baseia em projeções de que a produção de plástico deve mais que dobrar até 2040, resultando em detritos plásticos no oceano quadruplicando até 2050.
Apoiado pelo WWF e conduzido pelo Instituto Alfred Wegener – Centro Helmholtz para Pesquisa Polar e Marinha, o relatório “Impacts of plastic pollution in the oceans on marine species, biodiversity and ecosystems“ (em tradução livre, “Impactos da poluição plástica no oceano em espécies marinhas, biodiversidade e ecossistemas”) registra que as concentrações de microplásticos acima de um nível limite de 1,21 x 105 (121.000) partículas de microplástico por metro cúbico já foram estimados em várias regiões do mundo. Este limite, acima do qual é provável que ocorram riscos ecológicos significativos, já foi ultrapassado em alguns pontos críticos de poluição, como no Mediterrâneo, no Leste da China e nos mares entre a China e a Coréia do Norte e Coréia do Sul, e o gelo marinho do Ártico.
Nos piores cenários, exceder limites de perigo ecológico de poluição de microplásticos pode levar a efeitos adversos em espécies e ecossistemas, incluindo populações reduzidas.
“No caso da poluição plástica nos oceanos, estamos em um momento em que a massa de plástico produzida e presente na natureza é duas vezes maior que a de seres vivos do nosso planeta. Isso é muito grave. A gente deve e pode agir, precisamos zerar a poluição plástica imediatamente”, afirma Gabriela Yamaguchi, diretora de Engajamento do WWF-Brasil. “O primeiro passo para que isso aconteça é por meio da ciência, a exemplo desse estudo, registrando as linhas de base e as informações para que haja responsabilização transparência das ações necessárias e dos resultados das soluções adotados”, explica.
Impatos negativos
Como a poluição plástica tem alta capacidade de se alastrar, quase todas as espécies marinhas provavelmente já tiveram contato com o plástico. Os impactos negativos da poluição plástica já são detectáveis na maioria dos grupos de espécies, enquanto a produtividade de vários dos ecossistemas marinhos mais importantes do mundo, como recifes de corais e manguezais, está sob risco significativo.
Onde outras ameaças, como pesca excessiva, aquecimento global, eutrofização ou transporte marítimo se sobrepõem a pontos críticos de poluição por plástico, os impactos negativos são amplificados. Para espécies já ameaçadas, sendo que algumas vivem nesses pontos críticos como focas-monge ou cachalotes no Mediterrâneo, a poluição plástica é um fator de estresse adicional pressionando essas populações à extinção.
“A pesquisa funciona como uma lanterna com a qual lançamos raios de luz na escuridão dos oceanos. Apenas uma fração dos efeitos foi registrada e pesquisada, mas os efeitos documentados causados pelo plástico são preocupantes e devem ser entendidos como um sinal de alerta para uma escala muito maior, especialmente com o crescimento atual e projetado da produção de plástico”, afirma a Dra. Melanie Bergmann, bióloga marinha, do Instituto Alfred Wegener – Centro Helmholtz para Pesquisa Polar e Marinha.
A natureza durável do plástico também significa que a absorção de microplástico e nanoplástico na cadeia alimentar marinha só continuará a se acumular e atingir níveis perigosos, se não reduzirmos e cortarmos a produção e uso de plástico imediatamente. E isso depende da atuação da sociedade, mas especialmente da intervenção dos Estados e da mudança de postura das empresas.
“Do ponto de vista dos governos, é possível atuar de duas formas: primeiro, cortar o subsídio de toda e qualquer produção de plástico a partir de combustíveis fosseis; e, segundo, o Brasil carece de dados de pesquisa, que consigam garantir transparência e responsabilização quando se trata de poluição plástica no nosso país”, afirma diretora de Engajamento do WWF-Brasil.
“As empresas, por sua vez, são protagonistas da solução. Precisamos ter legislações e compromisso das empresas para interromper a produção do plástico virgem e interromper a produção e o uso de plástico que consome recursos fosseis. Isso deve ser imediato.”, completa Yamaguchi.
FONTE: WWF BRASIL