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Com fechamento de escolas no Haiti, crianças ficam na mira de gangues armadas

O aumento da criminalidade de gangues na capital do Haiti, Porto Príncipe, está limitando o acesso à educação e impedindo que milhares de crianças frequentem a escola. Desde 2020, a violência levou ao fechamento de escolas, aumento a vulnerabilidade dos menores, que são muitas vezes recrutados pelos grupos armados.

Steve*, um adolescente de 15 anos, sonhava em se tornar professor. Ele contou sua história desde quando a vida se transformou complemente. Devido ao aumento da violência relacionada a facções em seu bairro, sua escola foi fechada e Steve se viu sem rumo pelas ruas, à mercê de grupos armados. Ele conta que entrou para um grupo criminoso em fevereiro de 2021. Desde 2020, a violência levou ao fechamento de escolas, aumento a vulnerabilidade dos menores, que são muitas vezes recrutados pelos grupos armados

© UNICEF/Joseph

Desde 2020, a violência levou ao fechamento de escolas, aumento a vulnerabilidade dos menores, que são muitas vezes recrutados pelos grupos armados

Recrutamento de crianças

De acordo com um relatório publicado por duas organizações locais focadas em jovens, 13% das crianças pesquisadas em um bairro da capital afirmaram que os membros das gangues armadas fizeram contato direto ou indireto com eles para tentar recrutá-los.

Segundo os relatos, eles oferecem muito dinheiro às crianças, enquanto ameaçam matá-las se não obedecerem. 

De acordo com Steve, todos os dias ele era obrigado a vigiar a polícia e ganhava até 2.500 gourdes haitianos, ou US$ 25. Quando decidiu que não queria mais fazer o que mandavam, os membros do grupo armado o ameaçaram de morte. 

Vítimas das gangues e infâncias quebradas

Em 2021, confrontos entre facções rivais eclodiram em algumas áreas urbanas da capital Porto Príncipe. Mais de 19 mil pessoas, incluindo 15 mil mulheres e crianças, foram forçadas a fugir de suas casas devido a atos de violência, como assassinatos e sequestros. Centenas de casas foram queimadas ou danificadas.

Este ano, a guerra de gangues se intensificou. Desde 24 de abril, meio milhão de crianças perderam o acesso à educação em Porto Príncipe, onde cerca de 1,7 mil escolas estão fechadas, como diz o governo.

Steve levava uma vida pacífica como uma criança suburbana. Ele brincava com seu irmão mais novo e duas irmãs mais novas, e aproveitou muito sua infância com sua avó. 

Videogame e bicicleta

Ele lembra que costumava andar de bicicleta, jogar videogame e assistir e filmes até escurecer, buscava água a avó e também limpava a casa.

A violência está impactando um número cada vez maior de escolas e destruiu o sonho de muitas crianças. Uma avaliação do Ministério da Educação entre abril e maio de 2022 de 859 escolas em Porto Príncipe revelou que 31% delas foram atacadas e mais de 50 fecharam suas portas. 

Muitos estabelecimentos de ensino foram ocupados por bandidos. Alguns servem de abrigo temporário para famílias deslocadas pela violência. O número de alunos nas aulas caiu de 238 mil no início da crise das gangues em abril para 184 mil agora.Mulher prepara refeição no Haiti.

Foto: © UNICEF/Georges Harry Rouzier

Mulher prepara refeição no Haiti.

Violações dos direitos da criança

Violência, fechamento de escolas e ociosidade levam à inclusão de crianças em grupos armados. Steve afirma que onde mora, sempre há tiroteios e muitos sequer podem sair de casa.

Com as escolas fechadas, ele afirma que “estão todos abandonados nas ruas” e as “crianças de rua” são os principais alvos das gangues.

Segundo o representante do Fundo das Nações Unidas para Infância, Unicef, dar armas às crianças para lutar e usá-las como soldados ou espiões é uma violação dos direitos da criança e condenada pelas leis nacionais e internacionais.

Bruno Maes afirma que se entristece que crianças dispostas a aprender e professores dispostos a educar não consigam estar nas escolas porque se sentem inseguras. 

Para ele, as crianças devem poder frequentar a escola com segurança, brincar livremente, gostar de ser criança e ter a chance de desenvolver todo o seu potencial.

Steve, que é um nome fictício, foi preso e aguarda julgamento por acusações relacionadas ao tempo em que participou da gangue armada.

Enquanto está detido, ele está sendo ajudado pela Brigada para a Proteção de Menores, apoiada pelo Unicef.

*O nome de Steve foi mudado por questões de privacidade e segurança.
 FONTE: ONU NEWS

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