Partido de Shinzo Abe garante ampla vitória dois dias após assassinato
O partido que governa o Japão e seus aliados obtiveram nas eleições para o Senado deste domingo (10) votos suficientes para formar uma ampla maioria, dois dias após o assassinato do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe durante um evento de campanha.
O Partido Liberal Democrata (PLD), que governa o país e ao qual Abe pertencia, e o partido Komeito, seu aliado, reforçaram seu domínio com mais de 75 das 125 cadeiras da Câmara Alta, de acordo com a imprensa japonesa.
Os dois partidos fazem parte do que agora é uma supermaioria de dois terços disposta a alterar a Constituição pacifista do país e fortalecer seu papel militar em nível global, um objetivo de longa data de Abe.
Mesmo antes do assassinato que chocou o país, o PLD e o Komeito avançavam para fortalecer sua maioria.
“Acho importante que as eleições tenham sido realizadas normalmente”, disse o atual primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, acrescentando que em seu mandato vai focar a Covid, a Ucrânia e a inflação.
O assassinato do ex-premiê na sexta-feira (8) ofuscou a votação, mas o chefe de Governo e sucessor de Abe, Fumio Kishida, insistiu que o choque provocado pelo crime não iria interromper o processo democrático.
Admitindo a derrota, Kenta Izumi, líder do opositor Partido Democrático Constitucional, que deve perder vários assentos, disse que estava claro que “os eleitores não queriam mudar”, segundo a Kyodo News.
A taxa de participação nas eleições foi de 52%, segundo os últimos dados disponíveis na manha desta segunda-feira (noite de domingo no Brasil).
O corpo de Abe chegou a Tóquio no sábado (9), procedente da região oeste do país, onde ele foi baleado na sexta-feira.
O assassinato provocou um grande choque no país e na comunidade internacional, que expressou condolências e condenações ao crime.
O homem acusado pelo assassinato, Tetsuya Yamagami, de 41 anos, foi detido e afirmou aos investigadores que atacou Abe porque acreditava que o político era vinculado a uma organização — que não foi identificada.
A imprensa japonesa descreveu a entidade mencionada como uma organização religiosa e afirmou que a família de Yamagami sofreu problemas financeiros em consequência das doações de sua mãe ao grupo.
Remorso
Abe pronunciava um discurso de campanha na região de Nara (oeste do Japão) para apoiar um candidato do PLD quando Yamagami abriu fogo.
Depois de ser atingido por dois tiros no pescoço, Abe foi declarado morto poucas horas depois, apesar dos esforços de uma equipe de 20 médicos.
O Japão é um país com poucos crimes violentos e tem leis rígidas sobre o porte de armas, e, por consequência, a segurança nos atos de campanha não é tão severa.
Após o assassinato de Abe a segurança foi reforçada para os eventos com o primeiro-ministro Kishida.
Takao Sueki, de 79 anos, disse que compareceu às urnas com a instabilidade internacional em mente, incluindo a invasão russa da Ucrânia.
“Ao observar a situação do mundo, penso como o Japão vai administrar o cenário”, disse.
No sábado, a polícia admitiu falhas no dispositivo de segurança de Abe e prometeu uma investigação exaustiva.
“Acredito que é inegável que houve problemas com as medidas de escolta e de segurança para o ex-primeiro-ministro Abe”, declarou Tomoaki Onizuka, chefe de polícia de Nara.
O comandante afirmou ainda, sem conter as lágrimas, que desde que se tornou policial, em 1995, nunca teve “um remorso tão amargo e um arrependimento tão grande como este”.
Velório
O gabinete de Abe informou que um velório acontecerá na segunda-feira (11) à noite. Na terça-feira, apenas a família e amigos próximos comparecerão ao funeral, que será simples.
A imprensa japonesa informou que os dois eventos devem acontecer no Templo Zojoji, em Tóquio.
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, que está na Ásia, chegou ao Japão nesta segunda-feira (noite de domingo no Brasil) e tinha prevista uma breve viagem para ver Kishida e expressar seus pêsames.
Kishida, de 64 anos, mantém uma sólida maioria parlamentar ao lado do grande aliado do PLD na coalizão de governo, o Komeito.
O primeiro-ministro, no entanto, enfrentará obstáculos políticos importantes, como a inflação e a escassez de energia.
FONTE: R7