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Mundo está falhando na proteção e na restauração de florestas, aponta relatório da Rede WWF

Novos dados alarmantes de relatórios inéditos mostram que o mundo não está no caminho certo para proteger e restaurar as florestas até 2030 e o fracasso em cumprir as metas florestais globais terá impactos catastróficos para o nosso planeta. O relatório Forest Pathways 2023, lançado nesta terça-feira (24) pelo WWF, argumenta que se os líderes e as empresas mantiverem as suas promessas de ação, ainda será possível inverter esta tendência e garantir um futuro com florestas mais prósperas que beneficiem a humanidade e o nosso planeta.

Os dados da nova FDA (sigla em inglês para Avaliação da Declaração Florestal) mostram que a conversão e o desmatamento atingiram 6,6 milhões de hectares em 2022, com a perda de floresta tropical primária em 4,1 milhões de hectares. Uma porcentagem alarmante de 96% do desmatamento global ocorre em regiões tropicais. A Ásia Tropical é a única região que está perto do caminho para atingir o desmatamento bruto zero.

O WWF alerta que as florestas tropicais estão começando a funcionar como fonte de carbono, e não como sumidouro, sob as pressões de um clima cada vez mais extremo, quente e seco. O desmatamento e a degradação generalizadas e crescentes nas três maiores bacias florestais tropicais do planeta – a Amazônia, o Congo e o Sudeste Asiático – poderão provocar uma catástrofe climática global.
Programa de áreas protegidas e restauração no Brasil
O Programa de áreas protegidas (ARPA), uma iniciativa entre governo federal, órgãos estaduais, instituições privadas e sociedade civil, é destaque no relatório como um sucesso em questão de preservação de florestas. Entre os anos de 2008 e 2020, cerca de 264 mil hectares não foram desmatados, pois estavam em áreas protegidas pelo Programa.

Já o Pacto Trinacional da Mata Atlântica é citado como case de restauração. A iniciativa foi reconhecida como uma das 10 bandeiras mundiais de restauração da Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas em 2022. As mais de 390 instituições envolvidas já alcançaram cerca de 1 milhão de hectares em restauração, geraram 126 mil empregos, apoiaram mais de 4.400 famílias e envolveram 7.500 crianças em programas de educação ambiental.

A restauração é apontada no relatório como um potencial a ser desenvolvido para o caminho do desenvolvimento verde, gerando até 2,5 milhões de empregos até 2030, se o Brasil implementar efetivamente essa agenda.

Para Edegar de Oliveira, diretor de Conservação e Restauração do WWF-Brasil, muito ainda precisa ser feito, pois a floresta já está afetada especialmente pelo desmatamento e pela degradação . “A floresta amazônica já vem dando sinais de declínio em algumas áreas, como por exemplo no sul e no sudeste do bioma. Algumas áreas já não absorvem carbono como antes, não por acaso essas localidades são mais quentes, desmatadas e com a floresta mais degradada. É urgente pararmos o desmatamento e investirmos em restauração de áreas, do contrário a seca que vemos agora, pode ser mais recorrente nos próximos anos”, alerta Oliveira.
Alerta global
“O mundo está falhando com as florestas, com consequências devastadoras em escala global. É impossível reverter a perda da natureza, enfrentar a crise climática e desenvolver economias sustentáveis sem florestas. Desde que foi assumido o compromisso global de acabar com o desmatamento até 2030, perdeu-se uma área de floresta tropical do tamanho da Dinamarca. Estamos em um momento crítico. Os governos e as empresas têm uma enorme responsabilidade em nos colocar no caminho certo. Não precisamos de novos objetivos florestais: precisamos de ambição firme, rapidez e responsabilidade para cumprir os objetivos que já foram definidos. É hora de dar um passo à frente, diz Fran Price, líder global de florestas do WWF.

O relatório Forest Pathways mostra que, globalmente, pelo menos 100 vezes mais financiamento público é destinado a subsídios prejudiciais ao ambiente do que ao financiamento para florestas. A Avaliação da Declaração Florestal revela que, globalmente, apenas 2,2 bilhões de dólares em fundos públicos são canalizados para as florestas todos os anos – uma fração insignificante em comparação com outros investimentos globais. Os povos indígenas e as comunidades locais recebem uma pequena fração do financiamento de que necessitam para garantir os seus direitos e gerenciar os seus territórios de forma eficaz, embora onde as florestas tropicais estão sob a sua gestão, as florestas estejam mais bem protegidas e o desmatamento e a degradação sejam menores.

Os relatórios surgem antes da Cúpula das Três Bacias (que será realizada no Congo entre os dias 26 e 28 de outubro), que representa uma oportunidade importante para os governos apresentarem uma agenda robusta e orientada para a ação que demonstre responsabilidade e transparência, no prazo necessário para enfrentar a urgência na escala necessária. Isso inclui aumentar e canalizar o financiamento de uma forma transparente e equitativa para florestas tropicais de elevada integridade, e para que os governos e as empresas voltem ao bom caminho, cumpram os seus compromissos públicos de travar a perda de florestas, proteger, gerir e restaurar de forma sustentável as florestas, de forma a começar a fazer um progresso anual contínuo e significativo em direção às metas florestais globais.

Além de fazer um apelo ao cumprimento das promessas financeiras, o relatório Forest Pathways 2023 do WWF estabelece um plano para salvar as florestas até 2030, com medidas essenciais, incluindo:

● Acabar com os investimentos e subsídios que prejudicam as florestas, como os subsídios agrícolas, responsáveis pela perda de 2,2 milhões de hectares de floresta por ano

● Reformar as regras do comércio global que prejudicam as florestas, eliminando das cadeias de abastecimento globais as commodities ligadas ao desmatamento e removendo barreiras aos produtos ecológicos

● Acelerar o reconhecimento dos direitos à terra dos povos indígenas

● Fazer a transição para economias baseadas na natureza

FONTE: WWF BRASIL

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