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Conheça a Jenifer, uma das atletas que representarão Marília nos Jogos Parapan Americanos do Chile

Três atletas da Associação Mariliense de Esportes Inclusivos (AMEI), foram convocados para representar o Brasil nos Jogos Parapan Americanos do Chile, Daniel Martins, Rebeca Souza e Jenifer Azevedo, que fará sua estreia em competições internacionais.

Jenifer Cristian da Silva de Azevedo, também conhecida por “Jeny” forma carinhosa com que seus companheiros de equipe se referem a ela, é natural de Campinas, hoje com 26 anos, mora em Marília desde os 3, cidade que adotou de coração.

Possui deficiência visual, mais precisamente ceratocone, uma enfermidade não inflamatória que aumenta de forma considerável a estrutura da córnea, camada fina e transparente que recobre toda a frente do globo ocular fazendo com que a visão se torne embaçada e irregular. O primeiro diagnóstico foi aos 11 anos, onde a enfermidade ainda era grau 1. Após sua gestação em 2015, houve uma evolução considerável do quadro, diminuindo sua acuidade visual.

Conheceu o esporte através de sua prima Lilian Carla que é deficiente intelectual. Em 2003, com 6 anos de idade, Jenifer acompanhava sua prima nos treinos na Associação Mariliense de Esportes Inclusivos (AMEI), onde ocorre também um projeto de iniciação à natação, que foi a primeira modalidade esportiva com que teve contato. Após um período longe do esporte, em 2016 voltou a frequentar a AMEI e passou integrar a equipe de competição da natação. Em 2018, por orientação do próprio pessoal da AMEI mudou de modalidade, da natação foi para o atletismo e mal sabia ela que essa seria uma grande mudança na sua vida.

Na sua primeira competição no atletismo fez sua classificação funcional, que é um sistema utilizado nos esportes paralímpicos, com o objetivo de assegurar a legítima participação de atletas com deficiências, constitui-se em um nivelamento entre os aspectos da capacidade física e competitiva, colocando as deficiências semelhantes em um grupo determinado. As classes são divididas entre deficiência física, visual e intelectual.

Na Deficiência Visual a classificação é determinada pela International Blind Sports Association (IBSA), a classificação é realizada de acordo com os parâmetros funcionais da acuidade visual e do campo visual, e são classificados em: B1 – Cegueira Total, incapacitando o reconhecimento de objetos ou contornos; B2 – Limitação no campo visual em 5° ou acuidade visual de 2/60 e B3 – Limitação no campo visual entre 5° e 60° ou acuidade visual entre 2/60 a 6/60.

No atletismo, ao invés de se utilizar B1, B2 e B3, são utilizados os códigos F11, F12 e F13, mas a lógica da classificação é a mesma. Após a avaliação, Jenifer foi classificada como F13 e nessa classe permaneceu até 2023. Neste caminho conquistou inúmeras medalhas de ouro e recordes brasileiros nas provas de arremesso do peso, lançamento de dardo e lançamento de disco.

Além de ser atleta, Jenifer está cursando o último ano de psicologia na UNIMAR e foi durante as Paralimpíadas Universitária, em São Paulo, que recebeu uma dura notícia. Convocada a fazer uma nova classificação funcional, Jenifer foi reclassificada como F12, ou seja, havia tido uma piora na sua visão.

“Quando recebi essa notícia, fui para meu quarto no hotel e chorei por um longo período, eu sentia que minha visão havia piorado, mas atribuía isso ao estresse do último ano da faculdade, não achava que era algo clínico.

Quando o médico me disse que minha visão havia piorado e a comprovação veio com a nova classe funcional, foi difícil digerir, a gente até sabe que isso pode acontecer devido as características da minha doença, mas torce para que nunca aconteça.” relatou Jenifer

Jenifer sabia que não havia muito tempo para se lamentar e mediante a nova condição se propôs a fazer o melhor possível, venceu suas três provas nas Paralimpíadas Universitárias e começou escrever um novo capítulo na sua história e carreira.

Duas semanas após as Paralimpíadas Universitárias, lá estava Jenifer novamente em São Paulo, dessa vez para disputa do Campeonato Brasileiro. Venceu as duas provas que fez, o arremesso de peso com a marca de 8,81m. e recorde da competição e o lançamento do dardo com a marca de 28,60 metros estabelecendo o novo recorde brasileiro da prova e a colocando entre as melhores atletas do continente.

Com isso, criou a expectativa de sua convocação para os Jogos Parapan Americanos do Chile e o que parecia impossível meses antes, se tornou realidade no último da 3 de outubro. “Quando vi meu nome na lista dos convocados, comecei a chorar, passou um filme na minha cabeça, de toda a minha luta e angústias, principalmente dos últimos meses. Quem é atleta sempre sonha em representar o Brasil, eu tinha esse sonho, mas não sabia se realizaria. Deus é perfeito escreveu tudo como devia ser e agora estou me preparando para representar o meu país, estou muito feliz.” relatou a atleta.

As mudanças na vida da Jenifer já começaram, recentemente assinou seu contrato com a UNIMED Marília e agora está nos preparativos finais para os Jogos. Se apresenta em São Paulo no dia 12 de novembro e embarca para o Chile no dia 15. Competirá o lançamento do dardo no dia 23 e o arremesso de peso dia 25.

Independente do resultado, com certeza essa é mais uma daquelas histórias que nos enche de esperança. A resiliência, a persistência e a forma com que encarou seus problemas se torna um grande exemplo para todos nós e se o nosso hino nacional diz que “um filho teu não foge à luta”, a Jenifer já se mostra uma grande guerreira.

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