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Com destruição de 11 mil km² no último ano, novo plano é urgente para conter desmatamento no Cerrado

O desmatamento e a conversão no Cerrado brasileiro estão fora de controle. O bioma perdeu 11.011,7 km² de vegetação nativa entre agosto de 2022 e julho de 2023, de acordo com dados do PRODES Cerrado divulgados nesta terça-feira (28). Trata-se da maior extensão devastada desde 2016. O crescimento em relação ao período anterior foi de 3%.

Os dados foram divulgados em um evento realizado em Brasília pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática (MMA), no qual também foi divulgado o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento no Cerrado (PPCerrado). Ao contrário do que aconteceu na Amazônia, ao longo de todo o ano de 2023, o desmatamento no Cerrado se manteve em altos patamares, superando os números do ano anterior. 

Os estados que mais desmataram foram Maranhão (2.929 km²), Tocantins (2.234 km²), Bahia (1.972 km²) e Piauí (1.128 km²). Todos pertencem ao Matopiba, a mais recente fronteira agrícola do país, evidenciando a relação entre o avanço da produção de commodities e a destruição ambiental. O estado da Bahia teve um aumento de 38% no desmatamento em 2023 em relação ao ano anterior. Destaque negativo também para Mato Grosso do Sul, com aumento de 14% em comparação com o ano anterior. 

Conhecido como “berço das águas”, o Cerrado é indispensável para o regime de chuvas do país, mas é fortemente pressionado pelas atividades agrícolas e passa por um processo contínuo de destruição. Os níveis alarmantes de desmatamento revelados pelo PRODES Cerrado 2023 resultam em um aumento crítico da vulnerabilidade climática, ambiental e social no segundo maior bioma brasileiro.

“Enquanto presenciamos ações efetivas e queda de desmatamento na Amazônia, os dados para o Cerrado estão na contramão. Considerado a savana com maior biodiversidade do planeta, ele é também um dos biomas mais ameaçados, pois conta com uma proteção ambiental mais frágil e, consequentemente, com sucessivos recordes de desmatamento”, comentou Edegar de Oliveira, diretor de Conservação e Restauração do WWF-Brasil.

Segundo Oliveira, a médio prazo, essa devastação trará impactos alarmantes para a produção agrícola e o abastecimento hídrico de grandes centros urbanos. “Por isso, o anúncio do PPCerrado é muito oportuno e envia um sinal importante às grandes empresas que compram e usam commodities sobre a  necessidade de preservarmos as savanas, e não só as florestas”, declarou. 

Além da preservação da biodiversidade e proteção e desenvolvimento das comunidades locais, o combate ao desmatamento do Cerrado é importante também do ponto de vista climático, de acordo com Oliveira. “A exemplo da Amazônia, o Cerrado também é um grande estoque de carbono que, se liberado na atmosfera pelo desmatamento e uso da terra, coloca em risco nossas chances de alcançarmos a meta do Acordo de Paris.”

Plano de ação

Para Ana Carolina Crisostomo, especialista em Conservação do WWF-Brasil e líder da estratégia de Conversão Zero, o anúncio do PPCerrado é uma notícia positiva, mas sua implementação precisa ter o senso de urgência adequado ao momento, com foco imediato nas medidas de comando e controle.

“Os dados de desmatamento do Cerrado apontam uma situação muito crítica que se agravou ao longo de 2023. Estamos diante de um cenário que requer atenção a um bioma que é estratégico para nossa segurança hídrica e energética, já que é o berço de oito das 12 principais bacias hidrográficas do país, mas já observa redução de 15% da vazão de seus rios”, afirmou Crisostomo. 

Considerando que o Cerrado é visto como um grande celeiro de commodities, segundo Crisostomo, é preciso um olhar específico para promoção de melhores práticas no campo, ampliando os mecanismos financeiros para sustentabilidade, a reabilitação de áreas já abertas e o pagamento por serviços ambientais. 

“Além disso, é fundamental o desenvolvimento de um sistema nacional de rastreabilidade que dê transparência às informações de análise da conformidade da produção de commodities com a legislação ambiental e de direitos humanos. O reconhecimento dos territórios de comunidades tradicionais e povos indígenas, além da criação de Unidades de Conservação devem também ser prioritários para proteger os remanescentes de Cerrado, e para barrar o desmatamento na região”, afirmou ela.

De acordo com Crisostomo, é urgente também  a retomada da utilização do Cadastro Ambiental Rural (CAR) na agenda ambiental para emissão de multas e embargos remotos, assim como o cancelamento do CAR em áreas irregulares, como Terras Indígenas, e o cancelamento de crédito para quem promove o desmatamento ilegal.

Em carta publicada na revista científica Nature Ecology & Evolution, um grupo formado por mais de 40 pesquisadores destacaram a COP 28 – que começa na quinta-feira (30) em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos – como uma oportunidade para incluir a conservação de ecossistemas não florestais, como o Cerrado e outros biomas brasileiros, no combate contra a crise climática. 

FONTE: WWF BRASIL

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