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COP28: Cientistas reiteram que a Amazônia pode se tornar uma bomba de carbono

seca histórica que castiga a Amazônia neste ano é mais um sinal de que a maior floresta tropical do mundo está em perigo. A destruição decorrente do desmatamento acumulado ao longo das duas últimas décadas e por queimadas frequentes mudou a condição do bioma que, em suas áreas mais impactadas, já tem registrado menos chuvas e crescimento das temperaturas médias. “O lado leste da Amazônia está 28% desmatado. Durante o pico da estação seca, essa região perdeu 28% de chuvas e a temperatura média aumentou 2,3°C”, destacou Luciana Gatti, pesquisadora de Mudanças Climáticas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

O alerta de Luciana foi feito durante apresentação do Painel Científico para a Amazônia no sábado (09/12), na 28ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP28 UNFCCC), nos Emirados Árabes Unidos. “Se a gente não estivesse desmatando, queimando e convertendo o bioma tanto quanto estamos fazendo, a Amazônia continuaria sendo um importante sumidouro de carbono não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro”, salientou ela. “Não dá para ter orgulho de virar o grande exportador de proteína quando isso significa a perda da floresta. E a perda da floresta significa a perda da condição de vida dos seres humanos e da biodiversidade”.

O desmatamento e as queimadas fizeram com que, na última década, a Amazônia deixasse de ser um ponto de absorção de gás carbônico na atmosfera terrestre e se tornasse um emissor de gases de efeito estufa, agravando o aquecimento global. De acordo com o Policy Brief do Painel Científico para a Amazônia, enquanto a área de floresta intacta remove da atmosfera 700 milhões de toneladas de CO² por ano, as atividades humanas no bioma representam uma emissão de 1,8 bilhão de toneladas de carbono anualmente. Uma mudança que está diretamente relacionada às atividades humanas, como produção de monocultura e pecuária. 

O risco do ponto de não retorno

A Amazônia tem hoje cerca de 17% de sua vegetação nativa desmatada e outros 38% da floresta estão degradados. Cientistas indicam que, quando alcançarmos de 20% a 25% de desmatamento, o bioma pode atingir o chamado ponto de não retorno: um estágio de degradação que impede sua regeneração, levando a consequências catastróficas para o Brasil e o mundo – entre elas o desequilíbrio do ciclo de chuvas e do clima. Isso porque a floresta recicla água lançando vapor na atmosfera e, por meio dos “rios voadores”, gera umidade e propicia a formação de chuva em outras regiões da América do Sul. Além de ter capacidade de estocar gases de efeito estufa. 

“O ponto de não retorno na Amazônia levaria a um aumento do aquecimento global muito além dos valores acordados em Paris, causaria a diminuição do fluxo de água em toda a América do Sul, comprometendo a agricultura e a produção de alimentos. Causaria a extinção em massa de espécies em uma das regiões mais biodiversas do planeta”, listou Adriane Muelbert, ecologista e professora da Universidade de Birmingham, na Inglaterra.

Ela é uma das autoras de um estudo que aponta nove soluções para evitarmos o ponto de não retorno. O fim do desmatamento e a restauração de áreas degradadas aparecem como caminhos fundamentais para que a Amazônia volte a ser um sumidouro de carbono e, assim, um importante vetor de superação da emergência climática. Neste ponto, o climatologista Carlos Nobre frisou durante o evento nos Emirados Árabes Unidos que a restauração deve ser feita com espécies nativas, destacando o projeto Arco da Restauração, que foi lançado durante a COP28 pelo governo brasileiro com a promessa de R$ 1 bilhão de investimentos no sul da Amazônia. 

Saberes e soluções locais

Os estudiosos apontaram ainda a importância do desenvolvimento de mercados de sociobioeconomia, com a venda de produtos locais e exploração sustentável dos recursos com manejo florestal de base comunitária, uma solução que vai ao encontro das necessidades de conservação e de geração de renda e qualidade de vida para a população local.

O desenvolvimento de cadeias da sociobiodiversidade, contudo, ainda é um desafio. Apesar do aumento progressivo do interesse por produtos amazônicos, o mercado consumidor ainda busca uma gama pouco diversa de produtos, o que coloca em risco a biodiversidade e a sustentabilidade do negócio, explicou Raquel Tupinambá, analista de Conservação do WWF-Brasil, durante o evento da COP28. 

“Temos uma biodiversidade muito grande, mas que muitas vezes não é valorizada. A dificuldade é não cair na monocultura, como corremos o risco com o açaí ou alguns poucos produtos”, acrescentou. “É muito importante que as pessoas possam consumir as coisas produzidas na Amazônia. Precisamos transformar a Amazônia nesse espaço de centro, com valorização das suas culturas, da sua produção. É isso que vai conservar a floresta em pé e conservar os rios limpos.”

O desmatamento e as queimadas fizeram com que a Amazônia deixasse de ser um ponto de absorção de gás carbônico na atmosfera e se tornasse um emissor de gases de efeito estufa

FONTE: WWF BRASIL

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