Relação de Caetano Veloso com o Brasil é atualizada na ampliação de livro derivado de ensaio de 2005
Resenha de livro
Título: Lançar mundos no mundo – Caetano Veloso e o Brasil
Autor: Guilherme Wisnik
Edição: Editora Fósforo
Cotação: ★ ★ ★ ½
♪ Lançar mundos no mundo – Caetano Veloso e o Brasil é, de todos os sete livros lançados entre junho e este mês de agosto de 2022 por conta dos 80 anos do artista baiano, o único com conteúdo parcialmente já pré-existente. Embora a rigor seja a reedição do volume dedicado ao Caetano Veloso em 2005 na série Folha explica, o livro foi tão bem ampliado e atualizado pelo autor Guilherme Wisnik que parece novo.
Trata-se de ensaio que procura elucidar a obra do compositor com texto que se desvia da linguagem acadêmica. Arquiteto e professor, além de compositor como o artista que procura interpretar, o paulistano Guilherme – filho do compositor José Miguel Wisnik – defende a atualidade de Caetano Veloso no Brasil dos anos 2020.
Além de discorrer sobre canções recentes como Anjos tronchos (2021), cuja letra expõe situações geradas no mundo atual pelo domínio dos algoritmos e pelas ascensões de “palhaços líderes”, Wisnik ressalta a ressignificação de músicas como Vaca profana (1984) e Reconvexo (1989) – propagadas nas vozes de Gal Costa e Maria Bethânia, respectivamente – nas pistas de dança do século XXI.
Rebatizado com verso da letra da música Livros (1997), faixa-título de álbum lançado por Caetano há 25 anos, o ensaio abre mão do didatismo ao explicar o cantor e compositor. Lançar mundos no mundo jamais se apresenta como minibiografia do baiano já octogenário. Ainda assim, qualquer leitor com qualquer grau de (ou mesmo nenhum) conhecimento prévio sobre a história de Caetano Veloso conseguirá acompanhar bem a narrativa de Wisnik.
O autor parte de depoimento feito pelo cantor no show Circuladô (1992), antes de dar voz à canção Debaixo dos caracóis de seus cabelos (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1971), para mostrar como a obra de Caetano se relaciona com o Brasil desde que o samba é samba, ou seja, desde que o compositor foi apresentado ao Brasil em 1965 na voz de Maria Bethânia com o samba É de manhã (1965).
Em ensaio que dispensa cronologias, Wisnik embaralha explanações sobre a Tropicália e sobre álbuns como Abraçaço (2012), mostrando como Caetano Veloso sempre traduziu em sons e palavras (as musicadas e as ditas em entrevistas e aparições públicas) as dores e as delícias do Brasil.
Para quem quer se iniciar na obra do artista, o livro lança um primeiro olhar sobre o mundo multifacetado da música e do coco de Caetano Veloso.