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Câmara Municipal de SP presta homenagem às vítimas das bombas atômicas e da Batalha de Okinawa

Uma vez por ano, a Câmara Municipal de São Paulo (re)lembra os horrores da Segunda Guerra Mundial para que tamanha tragédia não se repita. Nunca mais. E, nesta segunda-feira, 7, por iniciativa do vereador George Hato (MDB), mais uma vez a Câmara Municipal de São Paulo realizou uma solenidade em homenagem às vítimas das bombas atômicas que foram jogadas pelos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial, nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.

A solenidade homenageou ainda as vítimas da batalha de Okinawa, também no Japão, considerado o maior conflito marítimo-terrestre-aéreo da história. As tragédias deixaram milhares de mortos. E feridas que permanecem até hoje.

O evento contou com a presença de alunos e professores da Escola Estadual Martha Figueira, na Água Funda (zona Sul), Escola Estadual Cidade de Hiroshima, em Itaquera (zona Leste) e Etec Takashi Morita, de Santo Amaro (zona Sul), além de autoridades como a cônsul geral Adjunto do Japão em São Paulo, Chiho Komuro (na ocasião representando o cônsul geral, Ryosuke Kuwana); o presidente do Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência –, Renato Ishikawa; o presidente da Kenren – Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil – Toshio Ichikawa; o presidente da Associação Okinawa Kenjin do Brasil (AOKB), Ritsutada Takara; o presidente do Centro Cultural Hiroshima do Brasil, Elzo Sigueta; o presidente da Associação Nagasaki Kenjin do Brasil, Shiguechika Mori; e o professor da Etec Takashi Morita, André Lopes Loula, além do proponente da homenagem, vereador George Hato.

Vereador George Hato, proponente da homenagem missão
Cônsul Chiho Komuro Todos temos responsabilidades
Professor André Lopes Loula, da Etec Takashi Morita
Presidente da Associação Okinawa Kenjin, Ritsutada Takara

Homenagens  – O ponto alto da solenidade foram as homenagens aos sobreviventes dos bombardeios: Shunji Morimoto (que nasceu em maio de 1944, em Hiroshima); Junko Watanabe, que tinha apenas dois anos no dia da explosão; Kunihiko Bonkohara, que tinha seis anos em 06 de agosto de 1945; e Takashi Morita, que na época tinha 21 anos e era soldado da polícia japonesa.

Único que não pôde comparecer,  Takashi Morita foi representado pela filha, Yassuko.

Após as execuções dos hinos nacionais do Japão e do Brasil, foi feito um minuto de silêncio em homenagem às vítimas de guerras, doenças e violências no mundo.

Patrono – Abrindo a série de discursos, o professor da Etec Takashi Morita, André Lopes Loula, destacou a importância do evento explicando que é “uma forma de inserir os alunos nesta tragédia, que está completando 78 anos e que mudou a questão geopolítica do mundo”. Lembrou que no dia 2 de março deste ano, alunos, professores e funcionários puderam conhecer um pouco mais sobre a história do seu patrono, Takashi Morita, que comemorou 99 anos na escola que leva seu nome.

“É muito importante para a escola que todos os alunos conheçam quem é o seu patrono desde o primeiro dia de aula”, disse André Loula, referindo-se a um dos poucos sobreviventes dos bombardeios atômicos. “Ele nos transmite paz e é isso que o mundo precisa”, afirmou o professor, lembrando que em Hiroshima está a Chama da Paz, acesa em 1964 e que só será apagada quando todas as armas nucleares deixarem de existir.

Shiguechika Mori, que nasceu em Nagasaki e veio com seis anos ao Brasil, disse que tudo o que sabe da tragédia foi passado pela mãe, Mieko Mori, que morava próximo ao epicentro de onde explodiu. Em 1977, já no Brasil, ele ganhou um bolsa de estudo e foi conhecer pessoalmente a região. “Já temos bombas suficientes para destruir o mundo o mundo”, disse Mori.

Junko Watanabe tinha apenas dois anos no dia da explosão
Sobrevivente da Batalha de Okinawa, Seikichi Oyafuso
Homenagem a Kunihiko Bonkohara, que tinha 6 anos
Shunji Morimoto recebe homenagem na Câmara Municipal
Yassuko representou o pai, Takashi Morita na homenagem

Todos perdem – Já o presidente da Associação Okinawa Kenjin do Brasil, Ritsutada Takara, citou trechos do livro “Okinawa: uma ponte para o mundo”, de José Yamashiro, e concluiu sua fala com uma frase de Jéssica Layne: “A guerra não leva ninguém a lugar algum. A guerra só traz dor e sofrimento, não há vencedor em uma batalha, de uma forma ou de outra todos perdem”.

Presidente do Centro Cultural Hiroshima do Brasil, Elzo Sigueta explicou que o mundo celebra 78 anos do fim da guerra, “mas muitos jovens ainda não sabem as suas consequências”. Ele também lembrou que, desde o ano retrasado, a Associação das Vítimas da Bomba Atômica passou para o controle do Centro Cultural Hiroshima.

Renato Ishikawa citou uma declaração conjunta da presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Mirjana Spoljaric, e do presidente da Cruz Vermelha Japonesa, Atsushi Seike, antes da cúpula do G7 em Hiroshima (19 a 21 de maio de 2023) de que há cerca de 13 mil armas nucleares no mundo e muitas delas com poder mais destrutivo que os das bombas que devastaram Hiroshima e Nagasaki, “que mataram pelo menos 140 mil pessoas no ato da explosão”. “Imaginem o que pode acontecer 78 anos depois?”, indagou Ishikawa, que também preside o Conselho Deliberativo do Hospital Japonês Santa Cruz, na zona Sul de São Paulo, instituição que desde 2004 realiza check-up anual aos sobreviventes das bombas atômicas.

Gen, pés descalços – A cônsul adjunto se referiu às tragédias como “capítulos difíceis da história humana cujas dores tocam até hoje nossos corações”.  E contou sobre sua experiência pessoal e de como o mangá “Gen, Pés Descalços”, de Keiji Nakazawa, a motivou na hora de optar pela carreira diplomática com o desejo de “procurar ajudar a atingir a paz”. “Depois de ingressar no Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão optei pelos temas relacionados à promoção de paz e trabalhei em várias divisões ligadas ao desarmamento e não proliferação de armas e nucleares”, explicou Komuro, que participou do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares, celebrado em 1996.

E concluiu afirmando que, “cada um tem sua responsabilidade” nesta luta pelo desarmamento. “Não podemos nunca deixar de fazer esforços para atingirmos nosso objetivo final, que é a paz. Ouvindo os depoimentos dos convidados, é possível imaginar como foi difícil para as pessoas que passaram por estas tragédias. Então, gostaria de solicitar a cada jovem que está presente aqui hoje para que procurem informações, pode ser em registros históricos ou na literatura, para que os senhores possam conhecer como é terrível o resultado da guerra. Um historiador alemão falou que a guerra é a continuação da política, ou seja, a guerra não surge de repente ou cai do céu, é continuação da política. Portanto, cada um tem sua responsabilidade de participar da decisão política de seu país”, finalizou a cônsul, que pediu para cada um refletir “sobre o que podemos fazer para alcançar a paz?”

Missão – Proponente da homenagem, o vereador George Hato, que se recupera de uma cirurgia, disse que há dez anos teve oportunidade de visitar o Japão, onde conheceu o Memorial da Paz, em Hiroshima. “É um lugar que emociona todo mundo”, recordou, acrescentando que voltou da viagem com a missão de “espalhar para os jovens e para as pessoas o que aconteceu em Hiroshima, em Nagasaki e na Batalha Okinawa, enfim, os horrores da guerra”.

Com recomendação médica de não se emocionar para não prejudicar sua recuperação, o parlamentar encerrou a sessão agradecendo a todos e desejando que “as palavras que foram ditas sobre respeito e amor ao próximo sejam perpetuadas cada vez mais pelas novas gerações presentes nesta cerimônia”. “A paz foi o tema que nos uniu hoje, e espero que ela esteja sempre entre nós”, concluiu George Hato.

Elzo Sigueta, presidente do Centro Cultural Hiroshima
Presidente da Associação Nagasaki, Shiguechika Mori

(Aldo Shiguti)

FONTE: NIPPON JÁ

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