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Projeto do WWF-Brasil ajuda a equipar brigadas voluntárias na Chapada dos Veadeiros

Dois grupos de brigadistas voluntários receberam apoio na região, que foi duramente atingida pelo fogo em 2021; inciativa estende ao Cerrado ações emergenciais contra o fogo realizadas na Amazônia e no Pantanal 

As brigadas voluntárias exercem papel fundamental no controle do fogo que têm devastado grandes áreas naturais de Cerrado, na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Ali, grupos locais de brigadistas voluntários muitas vezes usam seus próprios recursos e arriscam a vida para combater queimadas, que têm se tornado mais violentas e numerosas. A fim de fortalecer o trabalho desses brigadistas, o WWF-Brasil pôs em prática dois projetos emergenciais que permitiram a compra de equipamentos para organizações locais. 

Embora o fogo faça parte da dinâmica natural do Cerrado, as mudanças climáticas, combinadas a uma ofensiva de criminosos ambientais nos últimos anos, estão aumentando o número de incêndios de grandes proporções. O número de focos de queimadas também tem aumentado. Em 2020, foram registrados 552 nos oito municípios que compõem a Microrregião da Chapada dos Veadeiros, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Em 2021, até a primeira semana de novembro, a mesma área somou 701 focos. 

De acordo com Osvaldo Barassi Gajardo, especialista em Conservação do WWF-Brasil, os dois projetos, que marcam o início da resposta da organização em Emergência Cerrado, permitiram a compra de equipamentos para duas brigadas voluntárias: a Rede Contra Fogo, sediada em Alto Paraíso de Goiás, e a Brigada Voluntária Cavalcante (Brivac), de Cavalcante.  

“Estamos trabalhando no fortalecimento de brigadas voluntárias em mais um bioma. Além da Amazônia e do Pantanal, agora o Cerrado também está incluído na estratégia do núcleo de Respostas Emergenciais”, diz Gajardo. 

Os incêndios de grandes proporções que atingiram o Cerrado – e, em especial, a Chapada dos Veadeiros – foram levados em conta na decisão de incorporar o bioma nesse tipo de ação. “A Rede Contra Fogo e a Brivac são formadas por pessoas que estão doando seu tempo e seus próprios recursos para reduzir os impactos das queimadas no Cerrado. São pessoas altamente experientes e capacitadas, mas tinham necessidade de apoio para a compra de equipamentos que aumentassem a eficiência e segurança do seu trabalho”, conta Gajardo. 

Com os projetos, a Rede Contra Fogo recebeu dois turbo-sopradores, 15 lanternas de cabeça e 15 máscaras, enquanto a Brivac recebeu dois turbo-sopradores, 20 cantis, 20 cintos, 10 máscaras de proteção e 10 óculos de segurança. “Fomos pessoalmente entregar os equipamentos às brigadas e pudemos dialogar para entender seus desafios e preocupações, além de identificar formas de fornecer novos apoios no futuro”, salienta Gajardo. 

Mais eficiência. De acordo com Amílton Sá, coordenador da Rede Contra Fogo, a brigada foi criada em 2017 por conta dos grandes e numerosos incêndios que ocorreram naquele ano. “Contando com financiamento coletivo, conseguimos apoiar as ações de combate ao fogo junto aos órgãos federais. Em 2018 formamos 106 brigadistas, treinados em parceria com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade)”, salienta. 

A partir daí, segundo Sá, o grupo formou brigadas comunitárias setoriais e ofereceu cursos que treinaram 120 pessoas e ajudaram a formar também a Brivac, em Cavalcante, e uma brigada voluntária em São Jorge, outro município da região. “Em 2021 conseguimos dar mais um treinamento para 25 brigadistas. A gente enxerga a Contra Fogo como a ‘brigada-mãe’, que deu suporte à estruturação de brigadas voluntárias em toda a região”, diz Sá. 

De acordo com ele, os equipamentos doados são suficientes para equipar 15 brigadistas, e os sopradores têm se mostrado uma ferramenta indispensável. “A eficiência de um turbo-soprador em áreas com certo tipo de vegetação é muito maior do que a de vários abafadores. Em muitos casos é mais eficiente que a bomba costal, que tem um volume de água determinado. Com os sopradores você trabalha sem água, por muito tempo, de forma eficiente. É importante ter à disposição equipamentos dessa natureza, que aumentam muito as chances de controle de um incêndio”, frisa. 

Para Sá, as mudanças climáticas são o fator que mais contribuiu para que as queimadas de 2021 fossem mais violentas que o normal. “Houve uma situação climática extrema e tanto os fogos provocados por acidente ou de forma proposital, para limpeza de pastos ou em atividades criminosas, foram ampliados por conta da questão climática. Minha leitura é de que a situação climática extrema gerou um comportamento do fogo muito voraz, avassalador, de expansão rápida, com chamas e calor muito forte”, explica. 

Clima e ação humana. Para Carolina Ângela Rodrigues, membro da Brivac, sediada em Cavalcante, as mudanças climáticas potencializaram a força do fogo em 2021, mas grande parte dos incêndios foi iniciada de forma criminosa.  

“Este ano foi atípico e tivemos a pior seca em mais de 100 anos. Há um grande desequilíbrio, que torna a situação cada vez mais preocupante. O clima seco torna o cenário muito propício para incêndios descontrolados – mesmo o fogo natural, ou acidental. E temos grandes problemas também com o manejo inadequado do fogo”, afirmou Carolina. 

De acordo com ela, a mudança de padrão nas queimadas é percebida desde 2017, quando foi anunciada a expansão do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, que passou de 65 mil hectares para 240 mil hectares, após um decreto assinado pelo ex-presidente Michel Temer. “O surto de incêndios após o anúncio da expansão do parque é um indício de que as queimadas foram iniciadas de maneira criminosa, como forma de retaliação”, diz.  

Segundo Carolina, até o ano passado a Brivac contava com 26 brigadistas e, em 2021, a brigada conseguiu, junto ao ICMBio, a realização de um curso que permitiu capacitar mais 22 brigadistas. “Para atuar em combate ao fogo dentro do Parque Nacional é preciso ter um certificado de brigadistas”, explica. As queimadas vêm aumentando dentro dos limites do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Conforme o Inpe, ali foram detectados 53 focos em todo o ano de 2019, 68 em 2020 e 74 nos 10 primeiros meses de 2021. 

Nesse contexto, Carolina afirma que o apoio do WWF-Brasil foi fundamental. “O WWF-Brasil abriu portas para um caminho muito promissor. Recebemos equipamentos que podem parecer simples, mas que são de fundamental importância, como os cintos e os óculos protetores. Os sopradores, em especial, são equipamentos fundamentais para quem trabalha na linha de frente de combate ao fogo e estão fazendo muita diferença”, ressalta. 

O diretor da Brivac, Rafael Drumond, faz coro. “Os sopradores são uma ferramenta de grande alcance e eficiência. Com um bom operador, um soprador pode substituir de três a quatro brigadistas com abafadores. É muito menos desgastante, mais rápido, mais eficiente e, em algumas circunstâncias, muito mais seguro”, destaca. 

Fogo mais intenso. Segundo Drumond, mais do que a área atingida ou o número de focos de queimadas, o grande desafio enfrentado pelos brigadistas em 2021 foi a intensidade do fogo. “A extensão e duração do fogo foi tão impactante como em anos anteriores, mas percebemos um aumento da intensidade calórica, com a presença de ventos em níveis inéditos. Além disso, foram atingidas áreas sensíveis que não queimavam há anos, incluindo áreas de mata, onde a recuperação será muito mais delicada e demorada”, afirma. 

A quase totalidade das queimadas foi provocada por ação humana, segundo Drumond, mas as mudanças climáticas potencializaram a força do fogo. “Tivemos um incidente terrível aqui em Cavalcante, com o fogo atingindo e destruindo as casas de moradores no povoado Capela. O fogo neste ano foi perturbador no Cerrado, na Amazônia e no Pantanal, em uma conjuntura climática que está tornando mais evidentes os impactos que irão se repetir nos próximos anos”, pondera. 

Segundo ele, a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Semad) de Goiás tem dado um aporte pontual, mas muito relevante às brigadas, colocando à disposição um veículo para combate ao fogo. “A cada ano essa presença está se tornando maior e nos fortalece muito. Os gestores da Área de Proteção Ambiental, também ligados ao Estado, contribuem com toda uma ação estratégica no combate ao fogo. Falta agora melhorar as ações de prevenção”, acredita.

FONTE :WWF BRASIL

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