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Um ano da maior tragédia socioambiental do século em Pernambuco

O ato “1 Ano de Luto, 1 Ano de Luta” reuniu coletivos em memória às vítimas e cobrou políticas públicas. Voluntários do Greenpeace no Recife apoiaram a mobilização

Pessoas segurando banners em recife com dizeres "pelas vítimas das chuvas de 2022"
© Joyce Diva / Greenpeace

Quando o inverno começa no Recife, a gente já espera a chegada das notícias ruins. Todo ano a “Veneza Brasileira”, estampa manchetes sobre desastres socioambientais. Em 2019, foi a primeira cidade do País a reconhecer o estado de emergência climática

Banhada por três bacias hidrográficas (Capibaribe, Beberibe e Tejipió) e cortada por 99 canais, Recife é, segundo o IPCC, a cidade mais vulnerável do Brasil à elevação do nível médio dos oceanos. E a 16° do mundo. Mas não são as fragilidades naturais do território que explicam as tragédias, do contrário todos os endereços seriam afetados de forma parecida. O problema mora no longo processo de marginalização. 

Segundo o Boletim Desigualdade nas Metrópoles, o Grande Recife tem 52% da população vivendo abaixo da linha de pobreza ou extrema pobreza. É o maior percentual do País entre as regiões metropolitanas. Na capital, cerca de 55% da população é negra, mas, de acordo com o estudo Injustiça Socioambiental e Racismo Ambiental, feito pelo Instituto Pólis, essa taxa sobe para 59% nos locais onde há risco de inundação, chegando a 68% no de deslizamento. 

Quando cerca de 200 mm de acumulado de chuva caíram rapidamente naquele 28 de maio de 2022, as comunidades despossuídas de infraestrutura urbana, majoritariamente negras, já estavam marcadas a sofrer. Naquela ocasião, o céu ficaria cinza também nos dias seguintes, deixando uma multidão em alerta. O medo, a lama e o luto se misturavam. 

No Estado de Pernambuco, cerca de 128 mil tiveram que sair de suas casas temporária ou permanentemente. 140 pessoas morreram, sendo 135 dentro da região metropolitana, e a maioria por deslizamentos de terra, nos morros que cercam as planícies. 

Depois do maior desastre do século 21 ocorrido em Pernambuco, pouco foi feito referente à adaptação climática para quem mora próximo de cursos d’água e encostas íngremes. O “auxílio das chuvas” dado pelo Estado e municípios foi insuficiente para reconstruir a vida e reparar décadas de descaso, obrigando muita gente a voltar para áreas de risco por não ter para onde ir. 

Para não deixar com que a memória se perca, e fazer dela luta constante, o ato “01 Ano de Luto, 01 Ano de Luta” aconteceu no Recife neste dia 28 de maio de 2023. Ele contou com a participação de diversos coletivos da sociedade civil com o objetivo de lembrar as vítimas das inundações e deslizamentos de terra, tendo por foco pautar a ausência de uma política pública de adaptação climática para o Estado de Pernambuco. 

Com o aquecimento do Oceano Atlântico, a tendência é que as chuvas concentradas se tornem cada vez mais frequentes no litoral nordestino, onde se encontra o Grande Recife. O ato deste domingo ocupou as ruas, também, para mostrar a urgência dessa pauta para a sociedade. O percurso contou com momentos de fala de pessoas atingidas pela tragédia, lideranças comunitárias e organizações que colaboraram com ações efetivas na ajuda dos territórios atingidos. Por fim, nas diversas manifestações do ato foi ressaltado a importância de cobrar ações estruturantes do poder público para a real construção de adaptação e resiliência urbana na Região Metropolitana do Recife. 

Basta de Tragédias quando as chuvas chegam. Todos os anos, famílias que moram em áreas mais suscetíveis a desastres quando as chuvas chegam perdem seus parentes, casas e pertences. Esse problema é histórico no Brasil e acontece porque não há políticas de adaptação e prevenção a catástrofes. O governo federal precisa urgentemente revisar e colocar em prática o Plano Nacional de Adaptação (PNA), com participação das pessoas mais impactadas. O PNA é uma ferramenta para orientar que prefeituras, governos estaduais e o governo federal trabalhem de forma integrada, cada um com seus papéis e responsabilidades pela adaptação das áreas de risco. Ajude a pressionar por políticas públicas: Basta de tragédias quando as chuvas chegam.

FONTE: GREENPEACE BRASIL

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