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Amazônia: a importância de conhecer para proteger

Dizem que “o que os olhos não veem, o coração não sente”. Talvez seja por isso que muitos defendem uma economia da destruição na Amazônia: olhando de cima, muitos não veem a quantidade de vidas que habita aquela gigantesca mancha verde formada por milhões de árvores e rios sinuosos.

Pensando nisso, há um ano, o Greenpeace Brasil embarcava na expedição “A Amazônia que Precisamos” rumo ao interior do Amazonas, com destino a Manicoré, a quinta área mais desmatada do estado desde 2015. Formada por um mosaico de Terras Indígenas (TIs), florestas e Unidades de Conservação (UCs), a região tem mais de 1,3 milhão de hectares de florestas públicas não destinadas – terras de domínio público que ainda não foram designadas para um uso específico, como a criação de UCs e TIs, ou a regularização fundiária e a reforma agrária.

A partir do porto de Manaus, navegamos por três dias até atracar no rio Manicoré. Sim, era longe. Levamos conosco 27 pesquisadores incríveis do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), da Universidade de São Paulo (USP) e outras quatro instituições para estudar a biodiversidade da região, além de lideranças ribeirinhas que nasceram no meio daquelas florestas. Sim, há famílias inteiras vivendo ali – cerca de 4 mil pessoas no total. 

Em quase um mês de expedição, assistimos entusiasmados aos pesquisadores trabalharem dia e noite – muitas vezes em conjunto com os ribeirinhos – para estudarem as espécies de aves, répteis, mamíferos e plantas da região. Dentre elas, vale destacar que foram encontradas em Manicoré:

  • 34 espécies de aves com importância global e outras 13 espécies ameaçadas de extinção;
  • 257 espécies de plantas, 76 espécies de fungos e 77 de briófitas; 
  • 115 espécies de peixes, sendo que quatro delas estão sendo estudadas como potenciais novas espécies para a ciência;
  • 40 espécies de anfíbios e 34 de répteis;
  • Um potencial de até 84 espécies de mamíferos;

O espírito de Chico Mendes

Dentre vários achados científicos nas florestas públicas de Manicoré, dois nos emocionaram, especialmente. O primeiro trata-se de uma espécie de pássaro que havia sido registrada anteriormente, muito distante dali. Como tal espécie bateu asas e voou para tão longe? É o que os ornitólogos estão investigando. Por ora, como uma homenagem ao ativista que fez a importância da Amazônia ressoar mundo afora, os pesquisadores batizaram o pássaro de Chico Mendes

Ao trazer este passarinho desconhecido à luz da ciência, invocamos o espírito de Chico Mendes para nos ajudar a fazer o certo”, diz o texto etimológico escrito por um dos ornitólogos.

Pesquisadora de  Avifauna durante a expedição ''Amazônia Que Precisamos''
Pesquisadora de Avifauna durante a expedição ”Amazônia Que Precisamos”

O segundo, trata-se de uma nova leguminosa encontrada nas florestas de várzea inundada (igapó), batizada pelos botânicos de “Paulo Boca”, uma homenagem ao parabotânico Paulo Apóstolo Costa Lima Assunção, o Paulo Boca, que morreu de Covid-19 durante a pandemia sem conseguir dar adeus às florestas que tanto conhecia e amava. 

Para quem não sabe, parabotânicos são pessoas locais que foram treinadas por pesquisadores botânicos para ajudarem a identificar espécies no meio da floresta. São importantíssimos profissionais que misturam conhecimento tradicional com científico, que sabem como andar na floresta, navegar nos rios e escalar árvores gigantes. Assim como a floresta amazônica, tal profissão está ameaçada por falta de incentivo e recursos, restando poucos parabotânicos em atividade atualmente. 

Terras de ninguém? Não!

Contrapondo a economia da destruição defendida pela bancada ruralista do Congresso Nacional, o objetivo da expedição “A Amazônia que Precisamos” era o de discutir duas coisas essenciais quando pensamos na proteção da Amazônia: 

  • Apoiar novos modelos de desenvolvimento econômico para a região que sejam baseados no potencial da floresta, no conhecimento de populações indígenas e tradicionais;
  • Incentivar a produção científica e o conhecimento na Amazônia. 

Apesar das florestas públicas serem consideradas pelos invasores como “terra de ninguém”, grande parte das terras não destinadas na Amazônia são, há muitos anos, habitadas por populações tradicionais que fazem uso ancestral e cultural dos locais, com casas de farinha de mandioca, agroflorestas e produção artesanal de óleos naturais com fins medicinais, entre tantos outros conhecimentos. São populações essenciais para a proteção do meio ambiente, mas que não possuem o título fundiário das suas terras, estando expostas a invasões e violência.

Por isso, também participaram da expedição as lideranças Central das Associações Agroextrativistas do rio Manicoré (Caarim), que batalha há 16 anos pela criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), um tipo de UC categorizada como de “uso sustentável”, onde é possível aliar a conservação da natureza com o uso sustentável de parte dos recursos naturais. 

Apesar da luta dos ribeirinhos, a região do Manicoré sofre com invasões de grileiros, extração ilegal de madeira e expansão predatória da pecuária e da produção de soja há décadas. Essa não é a Amazônia que precisamos. A Amazônia que precisamos é a da floresta em pé, dos rios saudáveis e dos povos tradicionais vivos – povos esses  sabidamente chamados por Chico Mendes de “povos da floresta”. 

Todo o nosso respeito às comunidades ribeirinhas do rio Manicoré e às lideranças que estiveram com o Greenpeace Brasil na expedição. 

Todo o nosso respeito aos pesquisadores e parabotânicos que também embarcaram conosco nessa missão, e a tantos outros que passam mais tempo no chão da floresta do que no conforto de suas casas e famílias. 

E por falar em povos da floresta, lembramos que garantir os direitos dos povos indígenas também é fundamental. Junte-se a mais de 400 mil pessoas:

FONTE: GREENPEACE BRASIL

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